A experiência do lugar junto aos limites da própria experiência treinam com o que não vemos ou ouvimos, o que não é visível ou audível, porém está. Uma frágil tentativa de trazer os limites, tornar os contornos, a relação com objetos, matérias, seres vivos, uma questão a pensar. Como artista este é o meu trabalho, olho e sou olhada, penso e sou pensada, imagino e sou imaginada. Tudo acontece nada se passa. Do mesmo jeito que a minha vida não se circunscreve a uma única cidade, o meu trabalho é afetado pelos contextos onde acontece. Tudo conspira e concorre para que a distância desapareça, se torne proximidade. Dentro e fora, pele e parede, ar e hálito, misturam-se. Palavra, som, movimento, respiração –individual e coletiva, mexem e conformam a minha prática artística, a minha atitude e modo de estar perante o processo artístico. Espaços e tempos compartilhados em uma errância vital que me possibilita a conexão/ligação com o mundo, com o outrem –animal, mineral ou vegetal–.
O Workshop “a distância sensível” toma como ponto de partida a minha prática artística e experiência criativa, os processos e investigações que se seguem para partilhar inquietações, interesses e modos de se aproximar ao que nos envolve, rodeia e contextualiza. As palavras e os sons serão guias neste percurso. O pensar e desenhar como ações e atos de proximidade. A distância sensível é essa distância que se comove. Superfície, tempo ou vazio que é suscetível de se transformar, mudar, trocar. Esse lugar entre (nós). No médio de (nós). Distância que corre o perigo de se impressionar como uma superfície fotossensível. Implica um movimento para. Um deslocarmos para o outrem. Fazer proximidade. Percorrer a distância. Corporal e metaforicamente. Mapas, partituras, composições, arquipélagos e constelações –próprias comuns alheias.
Materiais e necessidades: papel e lápis; pele e corpo; sentidos e pensamento; detalhar-se-á o primeiro dia segundo o clima da oficina.
[Bio]
É artista interdisciplinar, doutora em Belas Artes pela Universidade de Vigo, professora permanente do Grado en Bellas Artes de la Universidad de Zaragoza (Espanha) e é, atualmente, investigadora externa do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade (i2ADS) da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (Portugal), onde está a desenvolver o projeto Península. Cartografías de la distancia no âmbito de uma bolsa para a Requalificação do Pessoal Docente Universitário Espanhol (2022-2024). A sua investigação artística ecoa as suas deslocações periódicas sem um único assentamento: vive e trabalha entre Porto, Pontevedra, Teruel e Valência. Este nomadismo inerente e peninsular -do oriente ao ocidente da Península Ibérica e vice-versa, do Atlântico ao Mediterrâneo- encena distâncias e limites como espaços abertos, elásticos e porosos. As viagens e os movimentos celebram a distância que torna visível o "entre" o "no meio de", o que é comum e o que é próprio, o que nos aproxima e nos afasta neste território rodeado de água. Península como uma geografia sensível onde cultura e cultivo inventam uma cartografia interespécies para imaginar poeticamente o jardim. O plural e necessariamente fragmentário da instalação tornam-se uma sorte de palimpsesto, de banda sonora e ensaio visual onde nenhuma alteridade é estranha.
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